terça-feira, 28 de agosto de 2012

Coletivo x "Jogo Tático"

Foto: Divulgação


Muito se comenta sobre os jogos didáticos para os treinamentos e cada dia mais, treinadores aplicam esse método. Porém não é tão simples assim, já que o mais importante não é aplicar os jogos e sim fazer com que o atleta entenda o porquê de cada jogo, os objetivos a serem atingidos, tanto táticos quanto técnicos. Podemos aplicar o mesmo jogo didático em duas equipes diferentes. O objetivo será atingido, dependendo da mensagem e das correções feitas por cada treinador.

Por ter trabalhado em colégios, que tinham como linha didática o construtivismo, tenho aplicado esse método por mais de 20 anos em equipes brasileiras e há quase 15 anos, não faço uma sessão de treinamento só com coletivo. Utilizo no máximo 15 minutos e mesmo assim cobrando alguma parte tática, o que chamo de coletivo direcionado, onde induzo uma defesa ou um ataque para cada equipe executar.

Iniciei aplicando nas categorias de base e posteriormente nas adultas. Tenho comprovado ao longo deste tempo resultados positivos, com uma resposta muito rápida no aprendizado técnico e tático, além de deixar o treinamento mais motivado, onde aplico vários jogos diferentes dentre eles, com o mesmo objetivo, porém com estratégias diferentes, assim criando um ambiente lúdico, potencializando a criatividade dos atletas que se mostra tão importante no jogo de futsal.

Esta pequena introdução serve para ilustrar minha experiência aqui no Kuwait, onde o desafio de aplicar esse método seria muito grande, como foi em algumas equipes no Brasil, onde no início se tinha a cultura do coletivo e por aqui não foi diferente, ainda somado com a barreira da língua muito diferente.

Na primeira semana de treinamentos já fui introduzindo alguns jogos para trabalhar os fundamentos, como: passe, linha de passe, finalizações, marcação, fugidas, etc. Estava à vontade e como já era habituado a fazer no Brasil, fui fazendo, até que um dia, próximo a um jogo amistoso que foi marcado, devido a proximidade do inicio do campeonato, veio o questionamento que eu estava esperando sobre o coletivo, para preparar a equipe para o jogo. Foi nesse momento que com toda dificuldade da língua, já que meu inglês é de colégio, precisei dar minha mensagem, explicando o porquê daquele tipo de treino e da não utilização de coletivos. Precisei ter o bom senso de saber que não poderia mudar tudo de uma hora para outra, que faria alguns coletivos. Fui para o hotel com uma dúvida na cabeça: se iria conseguir aplicar o método que eu mais acreditava

Minhas dúvidas acabaram no dia seguinte. Quando iria começar o treinamento, dois atletas, com certa ascensão no grupo, me chamaram e pediram para que eu continuasse aplicando os jogos, que não precisava fazer coletivo e fiquei muito feliz em saber que a mensagem foi entendida e o grupo comprou a idéia do treinamento.

Estou aqui na minha segunda temporada e ainda não apliquei nenhum coletivo. Nunca mais fui questionado, meus atletas entenderam que os jogos são coletivos com objetivos a serem atingidos em cada sessão de treinos.
Esta experiência me fez acreditar ainda mais nesse ambiente lúdico que os jogos táticos proporcionam, desafiando não só os atletas em atingir os objetivos propostos, mas também aos treinadores, tendo que criar novos jogos para desenvolver os fundamentos técnicos e táticos, melhorando a estrutura tática de sua equipe, conforme sua ideologia própria para o jogo de futsal.

Escrito pelo Técnico Paulinho Gambier

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